O Tribunal de Justiça de São Paulo lançou uma campanha chamada "Adote um boa noite", que incentiva a doação de crianças mais velhas.
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"A gente vai falar dos mais de 45 mil adolescentes e crianças que vivem em abrigos no Brasil, 80% deles têm seis anos ou mais e poucas chances de adoção.
Em São Paulo, o Tribunal de Justiça lançou uma campanha para tentar mudar essa realidade.
O dia de aula terminou e eles seguem o mesmo caminho. O portão leva ao mesmo abrigo, onde os meninos dividem o teto e as angústia.
- Porque eu não gosto daqui não...
- O quê?
- Eu não gosto daqui não.
O problema não é o abrigo, mas a falta de um lar. A Justiça autorizou que a gente conversasse com esses meninos. As possibilidades de reintegração deles às famílias de sangue já estão esgotadas, o que resta é a adoção.
Enquanto esperam, eles vivem uma vida compartilhada.
"Por mais carinho e atenção que o funcionário possa fornecer, tentar suprir, não é o suficiente porque eles sentem, eles têm essa carência da família", conta Valéria Gonçalves da Mota, gerente do abrigo.
Nessas casas, tudo é coletivo. Eles dividem o banheiro, a mesa das refeições, o quarto. E mesmo cheio, esse também é um lugar de solidão.
Esse momento um pouco antes do sono chegar é quando muita gente aproveita pra pensar em como foi o dia, os planos pro futuro. É assim também pra crianças e adolescentes que estão em abrigos.
Mas vários deles têm um pensamento frequente. Na verdade, uma preocupação que é só deles.
"Eu fico me perguntando porque eu tô no abrigo, também como vai ser o meu futuro quando eu sair daqui", Eduardo Nascimento de Jesus, 13 anos.
O Tribunal de Justiça de São Paulo lançou uma campanha chamada "Adote um boa noite", uma referência a esse momento delicado do dia principalmente pras crianças mais velhas e pros adolescentes.
"Então nós buscamos desestigmatizar essas adoções de crianças um pouquinho mais velhas. Nós não queremos aqui buscar despertar um espirito passageiro de caridade, mas nós acreditamos sinceramente que existem essas pessoas na sociedade e que isso pode ser despertado nelas", afirma Gabriel Pires de Campos Sormani, juiz.
"A gente tem crianças aqui dentro que durante muito tempo elas tiveram se colocar no papel de adulto, de pensar como adulto, de lidar como adulto. E a gente tá falando de crianças de 9, 10 anos. E assim, ela precisa dessa oportunidade de voltar a ser criança", afirma Anderson Lopes, psicólogo.
Essa família já era grande. Três filhos do primeiro casamento do Luís, mais dois da união com a Valéria. Mas tinha espaço e amor pra mais gente.
"Eu tenho tanto amor pra dar, pra que eu vou ficar guardando tudo isso?", conta Luiz
"Você está trazendo uma pessoa, um ser humano pra você. Não é uma boneca, um robô, ele tem problemas, sentimento, tem crises, como nós temos", afirma Valéria Mesquita Pacheco, empresária.
A rebeldia inicial, o desafio da transsexualidade, a desconfiança do Christian. Ele já tinha sido adotado e devolvido duas vezes. Agora, já faz quatro anos que ganhou uma família e o conforto de receber um boa noite.
"Muito bom, você sabe que agora vc não tá mais sozinha",
E tantos por aí estão guardando essa frase."
Confira o site do projeto:
http://www.adoteumboanoite.com.br
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Fonte: Globo Edição do dia 12/10/2017